As professoras reclamaram ontem de um cheiro de barata.
Foi uma discussão infindável entre as outras professoras, que me ensinavam gentilmente o que era o tal cheiro de barata e suas inúmeras hipóteses.
Dizem que lá onde trabalho tem muito desse fedor - é, dizem que fede -, coisa do saneamento, quando tem barata demais no lugar, é certeiro, vem aquele cheiro.
Que cheiro?
Um cheiro de barata.
Eu lá, sem entender. Era uma reunião que falava do cheiro da barata e eu com náusea daquela conversa, queria partir, tem um incômodo latente que não sei bem o que é até agora, mas faz mal.
Esse assunto desgastou. Fui lembrando saem perceber e em efeito dominó. Pensei em Clarice me mandando provar o sabor de barata esmagada e Kafka me orientando a me comportar como barata, a acordar cascuda, a ser tudo isso. Pensei em todas as baratas que já me atormentaram, muitas. Até sorri lembrando de uma em especial. Meu pânico com baratas, meus brios em não admitir de forma alguma que tenho pânico de barata, porque pânico de barata que fosse meu deveria soar poético, epifânico, não apenas uma ojeriza de mulherzinha, e minha macheza, como fica?
Percebi que não sentia mais repugnância das baratas lá da escola.
Eu nunca vi nenhuma, na verdade, mas sei que estão lá, me espreitando, me esperando, sussurando entre si à minha passagem e eu as odeio. Odiava, hoje não odeio mais. Até procurei o cheiro delas, pena que não senti, não vi.
Às vezes penso que o cheiro está lá, que elas estão lá, aos montes, uma peste, em todo canto, não há onde ir, estão presentes, visíveis, táteis... E eu é quem acredito não ver.
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