quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Das confissões, insetos e outras porcarias

As professoras reclamaram ontem de um cheiro de barata.
Foi uma discussão infindável entre as outras professoras, que me ensinavam gentilmente o que era o tal cheiro de barata e suas inúmeras hipóteses.
Dizem que lá onde trabalho tem muito desse fedor - é, dizem que fede -, coisa do saneamento, quando tem barata demais no lugar, é certeiro, vem aquele cheiro.
Que cheiro?
Um cheiro de barata.
Eu lá, sem entender. Era uma reunião que falava do cheiro da barata e eu com náusea daquela conversa, queria partir, tem um incômodo latente que não sei bem o que é até agora, mas faz mal.
Esse assunto desgastou. Fui lembrando saem perceber e em efeito dominó. Pensei em Clarice me mandando provar o sabor de barata esmagada e Kafka me orientando a me comportar como barata, a acordar cascuda, a ser tudo isso. Pensei em todas as baratas que já me atormentaram, muitas. Até sorri lembrando de uma em especial. Meu pânico com baratas, meus brios em não admitir de forma alguma que tenho pânico de barata, porque pânico de barata que fosse meu deveria soar poético, epifânico, não apenas uma ojeriza de mulherzinha, e minha macheza, como fica?
Percebi que não sentia mais repugnância das baratas lá da escola.
Eu nunca vi nenhuma, na verdade, mas sei que estão lá, me espreitando, me esperando, sussurando entre si à minha passagem e eu as odeio. Odiava, hoje não odeio mais. Até procurei o cheiro delas, pena que não senti, não vi.
Às vezes penso que o cheiro está lá, que elas estão lá, aos montes, uma peste, em todo canto, não há onde ir, estão presentes, visíveis, táteis... E eu é quem acredito não ver.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

letter

Impróprio e imprevisto.
Talvez a gente invente amores e a insanidade tenha alguma culpa em nosso cartório.
Talvez você já tenha, até, outro amor. Viva um romance novo, com gosto de erva e água fervente, com novidades na sala de estar.
Talvez eu esteja falando com você, com você, com você, ou comigo…
Essa chama que acende e apaga e crepita e acende e apaga e me lembra a luz de um faról.
Você não é um faról. Nós não somos. Nunca fomos. As luzes de um faról parece que dançam embriagadas da maresia. Nunca entendemos porra nenhuma de maresia, a gente é feito de um tipo de fumaça. Fumaça que a gente exala pelas narinas, à plenos pulmões.
Aproveitando essa luz e essa embriaguez, eu admito: A gente decidiu isso assim que nasceu.
Tô me sentindo transparente e furta-cor. Mas é que então, agora, andei procurando em vão umas flores e um café e um cigarro e um desconsolo qualquer no bolso da minha calça. É tudo fumaça. E eu te amo violentamente.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Tão mulher...

Você, que é tão mulher...
E que é tão melhor!

Que é tudo tão seu,
Tão breu,
Tão sol!

Escorre macia uma gota de mel da sua boca, louca.
Que raio de coisa faz ela?

Atira seu corpo na cama
Desnuda
Ama e se ama
Inunda, profunda…

Quanto porto num pedaço tão oceano de mulher.

É que dorme em sua pele uma febre candanga, eu acho.
É que cabe em seu peito uma Espanha, eu acho.
E mora no quadril uma dança, eu acho.
E cai bem aos seus pés uma andança, eu acho.
É que nela eu me acho… Seja hoje eu quem for!

Mas só Paula quem porta essa alma… Ess’alma de porte lunar e beldade que não se faz, simplesmente é.

Paula, que é tão mulher!

Parece menina na areia e nas flores,
Que expande em cores
Amores
Dores
Senhores…

Parece mulher, mas tão menina
Tão divina
Messalina
Tão fina e tanto assim
Linda, colorida,
É tanto de jardim!


E é tão mulher…
E ser assim tão mulher,
E ser assim, tão assim...
Faz se encontrar escondida no sertão de si.