segunda-feira, 7 de junho de 2010

Da natureza estragativa das coisas...

Percebi uma tendência: as coisas boas, com o tempo, ficam ruins. Na verdade, não é nada como o descobrimento da pólvora. Com o tempo, as coisas boas estragam mesmo, até quando não se faz alarde disso. Tem coisa melhor do que torta de limão, por exemplo? Agora, deixa a sua na geladeira por duas semanas? Ela vai deixando de ser boa. Fica gradativamente ruim, vai ficando com o gosto do feijão, do frango assado, daquela pizza de peperoni que está com o gosto do feijão também... No começo, é aceitável, mas depois de um certo tempo, o caminho para o fim é inevitável: fica tão ruim que não dá mais para comer, estraga e, o que era uma maravilhosa torta de limão, tem que ir para o LIXO.

No entanto, não são todas as coisas que têm a hombridade de assumir que, depois de um tempo, vão ficar ruins e você vai ter que jogar no lixo. A torta de limão sempre foi clara, sempre se fez compreender como um ser maravilhoso que te deixará mais perto do paraíso por alguns segundos, mas que você deve aproveitá-los enquanto duram, porque mais cedo ou mais tarde ela vai estragar. Todo mundo sabe disso. Todo mundo come a torta bem rápido, por isso.

Bandas e artistas que você acha bons, filmes, músicas chicletosas que não se sabe por que você gosta, grupos, comidas, tudo, por natureza, num futuro fica ruim. Seja porque no final ela perece e morre, ou porque você começa a desgostar. Afinal, você pode achar torta de limão a coisa mais maravilhosa de deus, mas tenta comer só torta de limão como naquele episódio de my wife and kids por dois, três meses? Você vai sentir arrepios só de pensar na torta de limão. Eu acho. É o que dizem, e você vai me desculpar por não testar empiricamente esta teoria, mas eu jamais profanaria a sacracidade de uma torta de limão.

Lady Gaga. A Lady Gaga é uma pessoa do mal, pois ela não deixa claro para aqueles que acham que Lady Gaga é uma coisa muito boa, que um dia ela vai estragar e ficar muito ruim. Pelo contrário, ela ilude estas pessoas as fazendo crer que Lady Gaga sempre será legal, sempre inovará e será muderna e sensual. Uh, Lady Gaga! Uma triste inverdade.

As coisas estragam naturalmente, porque o tempo passa e os fatores externos influenciam no seu perecer. No caso da torta, são os micro-organismos nojentos que a destroem. Algumas bandas, são influências internas (quando as pessoas da banda ficam brigandinho umas com as outras, por exemplo), ou externas, como exigências de gravadora, do público, do tanto que a fama consome seu tempo livre, já que o ócio-criativo é altamente necessário para que os artistas sejam bons. As propagandas, o cansaço, a geração de fãs ser meio babaca... Tudo isso contribui. Mas não está errado, é o ciclo natural da vida.

O que me lembra uma banda que eu gostava muito, o Vanguart. No começo, quando não existiam os hits deles do semáforo do avião e do relógio, eu achava que seria uma banda que eu ia gostar pra sempre porque era muito legal. O tempo passou, a MTV chegou, a Mallu Magalhães provou e eu joguei Vanguart no lixo. Depois, inclusive, do último lastimoso show que presenciei no CCSP, onde eu aliás me senti na platéia do Xou da Xuxa. O que foi até bom, porque uma grande frustração que tenho é que nunca estive na platéia do Xou da Xuxa. Nem da Angélica. Nem da Eliana, Mara Maravilha, Sérgio Malandro. Enfim, apesar do resgate da minha infância ter sido a parte boa, a parte ruim foi que a banda já não fazia mais sentido para mim pelos motivos que fazia no passado, e fim.

Não, não é aquela frase da minha época de “ah, virou modinha, não gosto mais”. Na verdade, eu estou cagando ligando muito pouco para o que vira modinha ou não. Aliás, contrariando o pessoal da minha sala na quinta série a opinião geral, virar modinha é bem positivo, porque significa que mais pessoas estão gostando daquele artista, produto, comida, roupa, banda, música, e, em breve, na minha e na sua cidade vai ter também.

As pessoas se comportam mal quando uma coisa fica ruim, mesmo que temporariamente. É como se as coisas tivessem a obrigação de permanecerem ótimas para sempre. Woody Allen, coitado, fez Vicky Cristina Barcelona, aquele filminho péssimo, e as pessoas ficaram muito bravas com ele. Tim Burton fez esse País das Maravilhas estranhíssimo e as pessoas ficaram decepcionadas com ele. O Restart não apareceu para o show e as pessoas xingaram muito no twitter.
Poucas coisas se dão ao direito de serem sempre boas para sempre, sem ficarem ruins nem enjoativas. Aliás, seria uma lista bem, bem curta mesmo. Arroz com feijão, Beatles, água mineral e... é, só isso.

Nós, da humanidade, agimos como se fosse errado, mesmo que só uma vez na vida, ser gay, mulher, negro, palestino ruim.

Seria tão mais saudável para nossas vidas se soubéssemos deixar acabar. Aproveitar a torta de limão na hora que tá fresquinha. Saber que as coisas têm o direito natural de ficarem ruins.

Esperto não é aquele cara que viu a maçã caindo da árvore, ficando no chão e apodrecendo, aí ficou twittando que a maçã já não é mais a mesma, ficou podre e merece ir pro lixo. Esperto, na minha singela opinião, é aquele que viu a maçã cair, descobriu a lei da gravidade e tá se aproveitando dela até hoje. Este cara, além de ficar mais atento para não derrubar copos, tropeçar ou cair num buraco no chão, ainda é capaz de conhecer outras frutas como a banana, o melão e a abacaxi.

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