terça-feira, 28 de março de 2006
Histórias pra boiada dormir
À chegada do auge do florescer de sua juventude Dominique, em época de freqüentar o baile do carnaval, conheceu Geruza. Geruza, a amiga de colégio, era a filha do casal modelo de moral e bons costumes do detrito social que as rodeava. Moça pudica e bem criada e muito mais coberta de panos que Dominique que vivia com suas tenras coxas displicentemente à mostra. Possuía olhar casto, trejeitos angelicais de quem foi cria para ser elogiada, declarado sonho - seu, de sua mãe, tia e avô - de casar-se de véu branco.
Certa feita no colégio, Geruza insinuou o quão importante seria para ela, como uma prova de sua amizade, que Dominique a convidasse a dormir em sua casa. Dominique, que sabia bem de sua fama e do conservadorismo dos progenitores de Geruza, ficou receosa, mas não demorou muito a ir falar com os pais da moça. Com os pés muito atrás (todos os dois) e depois de duas horas a fio de sofismas e dialética que Dominique dominava bem, a mãe de Geruza permitiu que a filha saísse com a outra desde que preservando infinitas condições, entre elas que a moça não mais viesse com a sandice de acompanhar Dominique no baile de carnaval naquele ano: "Onde já se viu? Moça de família, nessa idade, na rua?". Geruza não ligou para a condição, não gostava do carnaval, e aceitou cabisbaixa todo o demorado sermão, depois sendo consolada por Dominique que argumentava que pais são adultos e os adultos adultecidos são animais mamíferos, bípedes e bimanos com racionalidade muito aflorada e grande facilidade para aprender a levantar o dedo indicativo em riste e balançar a cabeça negativamente, que isso passa, que é só "pegar confiança".
Foi assim e foi rápido. Dominique estranhava o apreço exacerbado de sua amiga e a necessidade que ela sentia em freqüentar a intimidade de seu quarto, mas justificou para si mesma que talvez fosse a lasca de independência à qual a pobre Geruza reprimida se agarrava, a admiração na amiga livre.
No ano seguinte Geruza não pôde ainda ir ao baile de carnaval, mas não tinha este propósito: Dormiria como em todo final de semana na casa de Dominique, lance de praxe, estranhamente a aprazia mais que qualquer baile... Este ano, Dominique, quem não desperdiçava sua juventude, encontraria por lá um atleta de pouco cérebro e muito músculo, virilidade e voracidade: Nestor fantasiado de búlgaro, e logo depois encontraria com Geruza em sua casa. Quase tudo saindo como programado, se não fosse o imenso bolo que a mal fadada rapariga levou de Nestor fantasiado de búlgaro, que decidiu ficar pelo drive-in mesmo, acompanhado da dançarina havaiana. Mesmo furiosa com o desdém do acéfalo, Dominique não foi para o salão agarrar o primeiro pirata ou marinheiro que encontrasse, pelo contrário, contrariada com o imprevisto decidiu voltar para casa antes mesmo do horário de virar abóbora.
Entrou sem fazer barulho: Era costume que Geruza já estivesse dormindo, dorme cedo, comportada... Nas pontas nos pés subiu as escadas e entrou em seu quarto, mas para sua surpresa, a cama onde Geruza dormia estava arrumada-porém-sem-ninguém. Desceu as escadas curiosa e confusa, tentando entender o destino de sua casta amiga. Ouviu um barulho próximo à porta da cozinha... Alfredo, o gato, queria comida. Pacientemente decidiu alimentar o gato, tomar um copo de leite e ir dormir - aquela noite havia sido um fracasso -, mas quando foi em direção do armário onde era guardada a comida do bichano, um susto: Geruza nua sobre a pia da cozinha, com um chicote açoitando seu pai escritor de teatro falido & frustrado & bêbado que vestia uma ridícula roupa de couro sintético. Assustados e sem ação, os dois enrubesceram e embaraçaram-se completamente, mas Dominique saiu da cozinha de modo que não deixasse tempo para que eles tentassem o fiasco de explicar a cena. Decidida, voltou ao salão e deu para o palhaço, para o faraó, para o escocês, para o homem das cavernas e até para a nêga maluca.
Nunca mais ninguém viu Dominique por aí, uns dizem que ela saiu de mochila pela América do Sul pouco tempo depois, e que morreu há dois anos de velhice antecipada... Pode ser tudo boato, claro. De concreto só o que posso dizer é que no fatídico dia em que Dominique voltou ao baile escreveu com um batom bem carmim no espelho do banheiro feminino: "A vida deve ser muito mais do que uma coleção de momentos. É a coisa de fazer valer cada segundo de sua insignificante existência, pois no inferno não existe Serviço de Atendimento ao Cliente!...”, E depois sumiu no mundo.
sexta-feira, 17 de março de 2006
Fêmeas
Por que tudo isso? Porque resolví falar de mulher, minha gente, e vou falar de mulher por um motivo bem óbvio: Entendo mais de mulher do que de homem nessa vida.
Digo mais, digo que hoje especialmente vou falar de mulher gostosa:
Minha mãe é uma mulher gostosa. Minha avó é uma mulher gostosa. Minha vizinha, a Maria Carmem, também é uma mulher gostosa. Não, não estou falando das mulheres guerreiras que elas potencialmente são, não. Estou falando esteticamente: Todas são mulheres, mulheres mesmo.
Comercial de cerveja algo é particularmente tosco: Ninguém acredita na bunda do comercial de cerveja, meu deus! Nem homem, nem mulher. Aquilo é surrealismo idiota. Claro que é melhor que vendam aquelas "gostosas" do outdoor. Não estão me incomodando, sabe? Duvido que incomodem a minha avó, mãe ou Maria Carmem. Não incomodam e vendem cerveja. Com muito photoshop, vendem cerveja pra caralho.
Óbvio também que ninguém faz sexo com uma mulher daquelas.
Ninguém casa com outdoor, nem faz filho com outdoor.
Ninguém vai ao cinema com outdoor ou trepa com outdoor no banheiro da casa da tia Nilda no aniversário do primo.
Eu não acredito que alguém no mundo sustente a ilusão de que trepar com o outdoor seria mágico. Não acredito que você que está lendo agora já tenha na vida imaginado outdoor trepando.
Essa menina:
Essa menina não é uma menina, é um outdoor. Nem ela acredita nela mesma.
Essa menina aí na foto não é a mesma que habita o próprio corpo durante seus dias de verdade, quando não é uma foto. A do outdoor não usa carefree, não se desdobra entre corrimento vaginal e prova semestral da faculdade: Ela é SÓ foto... A modelo não, a modelo é uma mulher.
A Maria Rita, por sua vez, é muito mais gostosa que essa modelo. Quando você olha para Maria Rita e vê marcas de expressão, vê sorriso, vê dobrinhas e tudo mais, Maria Rita se torna uma mulher da sua realidade.
Ontem entrei na padaria. Encostada ao balcão esperando seu pacote de cigarros, havia uma mulher. Alta, morena, marcas aos lados dos olhos, provavelmente provindos de seus sorrisos. Uma mulher larga. Com celulites, provavelmente. Pernas grossas, cabelo preso de modo que seu pescoço aparecia displicentemente, perfumada, distraída, de calça jeans e camisa branca já amassada, devia estar voltando do trabalho. Ao lado dela, uma geladeira, e, colado na geladeira, um cartaz com a gostosa da cerveja. Não vi ninguém que não notasse a mulher, ninguém que não soubesse que ela era gostosa, ninguém preferiu ficar olhando pro cartaz, entende?
E a mulher... Ah, essa mulher era como Maria Carmem, tinha ancas, tinha charme, celulites, carefree!
Gente, por que diabos ainda há quem pense que mulher de outdoor (pff!) é gostosa?? Tem, no máximo, gosto de papel e cola.
quinta-feira, 16 de março de 2006
Jornalismo que dá gosto...
Quarta, 15 de março de 2006, 11h08
"Suposto pacto suicida deixa quatro mortos no Japão"
Quinta, 16 de março de 2006, 04h12
"Michael Jackson pagará salários de trabalhadores de Neverland"
Quarta, 15 de março de 2006, 21h13
"Irmãos são presos no Piauí por roubar saia usada"
Quarta, 15 de março de 2006, 19h06
"Seios à mostra de Janet Jackson levam CBS a pagar multa"
Quarta, 15 de março de 2006, 19h36
"Fóssil de dinossauro questiona advento das penas"
(...)
"Porque esse comprometimento da imprensa em mostrar sempre informações cruciais para o cotidiano nosso de cada dia, minha gente, é primordial para o desenvolvimento cultural do país!"
terça-feira, 7 de março de 2006
Sobre a dó (ou ainda: Ode à Francisco)
Hoje, lendo um texto aí ao qual não vou fazer referência, tive momentos de epifanía. Eu diria até que foi um despertar: Quando alguém de quem você realmente gosta (sim, eu gosto de você, não é pra ficar "todo todo") diz que saiu de um relacionamento o qual supõe-se que o fizesse feliz, a primeira sensação que nos acomete é a pena.
Sim, a pena, nem vem me dizer que no seu caso é diferente. Parece que não, mas esse instantâneo carinho demasiado e a vontade de abraçar a pessoa e dizer "isso passa, meu nêgo" é esse sentimento tosco que é a pena, "dózinha", se preferir. Aquela mesma "dózinha" que sentimos ao passar pelo mendigo na praça da Sé ou pelo gatinho abandonado numa caixa de sapatos. Ficamos sem saber o que dizer ou como agir, queremos aliviar as possíveis chagas que este fim deixou, e diria eu que com a mesma impáfia do super-homem quando se acha o mais fodão do universo achamos que podemos mudar a vida alheia.
Não é por querer: É instintivo que tentemos proteger os que nos são especiais, mas isso pode ser ofensivo, muchacho. Digo isso porque se o Chico dissesse pra mim que seu relacionamento feliz acabou e eu o olhasse com comiseração ele daria um belo roundhouse kick no meu olho esquerdo, afinal, é um homem grande, faz a barba, sabe atravessar a rua e arrumar e desarrumar namoradas sozinho, e ainda, dó de cu é rola.
Não quero com isso dizer que nenhum fim é doloroso e que quando aquele seu amigo emo estiver chorando porque perdeu a namorada você deve mandar ele parar com a frescura e ir assistir meninas superpoderosas, absolutamente. Estou mesmo é lembrando que as coisas têm início, meio e fim - nem sempre nessa ordem, mas pelo menos é assim que deveria ser -, e que se o namoro do seu amigo acabou não quer dizer que o mundo dele caiu, só que o prazo de validade dessa relação expirou, mas que entre o início e o fim há um meio, e é aí nesse meio que as coisas fazem a sua história valer a pena ou não.
quinta-feira, 2 de março de 2006
manual prático de como co-existir numa fila de banco
1º - DISTÂNCIA DE SEGURANÇA :
Meu filho, não adianta aglomerar e fazer a pessoa que está na sua frente te odiar e nojerizar.
Nas épocas de colégio você deve ter aprendido que para cantar o hino nacional deve-se posicionar em fila indiana, guardando um braço de distância da pessoa que vem a sua frente... Leve esse braço de distância para a vida! Se ficar fungando no cangote de alguém digamos como eu, você corre riscos infindáveis.
2º- COMPLEMENTO À DISTÂNCIA DE SEGURANÇA - "QUANDO E QUANTO ANDAR" :
Não é porque a pessoa que está na sua frente se mexeu que você tem automaticamente que andar. A pobre alma pode apenas estar querendo coçar o nariz ou botar algum cacoete em prática, o que é direito dela, já que vai ficar alí um bom tempo com um monte de gente que não conhece e provavelmente não quer conhecer, tudo o que ela quer é pagar uma conta.
Mantenha a distância de segurança agindo da forma adequada: esquecendo o automaticamente! - trabalhe sua psique de forma profunda para que o "automaticamente andar quando alguém na sua frente se mexer" suma da sua vida. Isso ocupará seu tempo de espera e aliviará a gastura dos que sofrem de TOC à sua frente.
3º - TOME UM BANHO ANTES DE SAIR DE CASA:
Ah, francamente! Feder, meu bem, não é bom.
Desculpem esta autora pela decepção criada, mas seu mau-cheiro não é atrativo, definitivamente. Tome um belo banho, coloque uma roupa limpa, use um desodorante sem perfume e depois não emane nenhum tipo de cheiro natural da sua derme.
4º - SEJA INODORO! (ou ainda: tome outro banho antes de sair de casa):
Se depois de sair do banho você decidir passar aquele creminho no corpo, ou aquele desodorante com cheirão, aquele perfuminho básico ou aquela essência de patchouli pare, respire fundo e, se possível, desmaie. Tudo para que em hipótese alguma você ponha seu plano em ação.
Não adorne seu odor com nada, nadica de nada! Nem colônia, nem pós barba... No máximo um Listerine, e ainda assim, só na boca.
(continua...)