sábado, 27 de janeiro de 2007

Da água

Era doce acreditar que preferir os cachorros poderia ser uma frase bonita na mesa, mas na verdade todo mundo tava muito só.
Todo mundo tava muito só.
Havia meia-luz, conhaque, cigarros, café frio, o barulho baixo da tevê e da respiração.
Ela chorava num silêncio tão profundo, tão centrado, que ninguém percebeu...
Pudera! Não haviam sombras nas paredes ou pés sobre o sofá.
Seus amigos eram muito sensíveis. Quando não, sabiam o resultado do jogo de futebol e poderia a noite acabar com pizzas baratas e vódka ruim.
Quando todo mundo precisava, todo mundo ia, era uma pose só para a foto.
Malditas poses, dizia baixinho, imperceptívelmente.
Quero amigos. Quero quem me ame, quem cozinhe, quem acabe com essa meia-luz.
Algum deles poderia abrir as janelas, deve estar sol lá fora.
Tem aquele restaurante e tem o telefone.
Eles deveriam desconfiar que existem no mundo, além de seus próprios umbigos, os meus.
Se fosse assim, seria menos vazio acreditar naquela euforia toda.
Falando como se alguém acreditasse na euforia.
Euforia é resultado da equação básica infelicidade + desespero.
Eu não devia dizer, mas esta lua, mas este conhaque, botam a gente comovido como o diabo...

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