segunda-feira, 21 de agosto de 2006

sine qua non

Três horas da manhã é hora mística.
Dizem alguns padres exorcistas que é a hora que os demônios escolhem para ação direta, como uma zombaria à santíssima trindade e inversão da hora tida como hora da morte de Cristo, três da tarde.
Não sou especialista, mas tenho pra mim que isso deve de ser verdade.


A janela tá fechada, a cama feita, outros lençóis.
O ar da diferença no cômodo, mas tem coisa alí pra arrumar, sempre tem.
O texto do trabalho que estava escrevendo há pelo menos 5 horas só tem uma frase. Nela a expressão "divisor de águas" aparece duas vezes e sem aspas. Vou jogar essa merda no lixo.
Hoje minha unha quebrou e fiquei realmente emputecida, como sofresse um aborto.
Comí macarronada e fiz um bolo de cenoura. Já parou pra pensar que todos os dias pelo menos uma das pessoas que você conhece comeu macarrão?
Nunca tinha feito um bolo de cenoura antes, ficou bom.
Quando você pára pra pensar naquilo que acha que ninguém pensa, conclui coisas assustadoras.
Temos um relógio biológico, certo?
O meu parou às três da manhã.





- Tava no rascunho: -


acordou sozinho.
desceu as escadas sozinho.
escovou os dentes sozinho.
leu o jornal sozinho.
foi à feira, comprou mangas, sozinho.
foi ao teatro, cinema, show de rock... sozinho.
almoçou sozinho.
riu sozinho.
lamentou sozinho.
dançou, fez coreografias absurdas, dessa vez sozinho.
entrou no metrô sozinho.
saiu do metrô sozinho.
cozinhou sozinho, pôs a mesa para três sozinho, serviu-se sozinho.
andou sozinho.
comprou sapatos sozinho.
chocolates brancos e fotografias sozinho.
lembrou sozinho.
escreveu este texto sozinho...
e ficava a cada instante mais claro que foi sempre assim e que ele faria tudo isso novamente sozinho cotidianamente até o fim dos seus dias... então sentou e esperou o fim da história chegar.

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