(encontrei perdidinho nos rascunhos empoeirados arquivo este texto, que decidi postar depois de tanto tempo justamente porque reli e me senti exatamente do mesmo jeito. Parece que a gente não muda tanto assim, né.)
Inspirada em um post da Garota Enxaqueca, eu decidi contar como foi minha vida de mulher, que durou aproximadamente dois dias.
Primeiramente, tem uma coisa muito engraçada nisso tudo.
Quero que vocês saibam que eu tenho cabelo duro. Pronto, falei.
Sabe quando o cabelo que você nasceu é terrível, e você tem vontade de perguntar pra Deus qual foi a dele ao colocar aquela juba maldita sobre sua cabeça? Então, este definitivamente NÃO É o meu caso.
ADORO meu cabelo. Ele é todo enrolado, um grande fuá, e eu faço o que quiser com ele. Me perdoem o auto-amor, mas é um cabelo fantástico, daqueles que a gente mesmo não vê defeitos.
No entanto, o comportamento das pessoas de fora é muito engraçado, no que tange ao meu trato capilar. Eu acabo sempre ouvindo algumas frases-chave que um dia vou entender o que motiva a pessoa a dizer. Por exemplo quando alguém me encontra e diz "que bonito seu cabelo! Ai, meu cabelo é enroladinho assim, mas não é igual ao seu (?). Ele não fica desse jeito, se ficasse, eu abandonava a chapinha. Parabéns!" - A pessoa me dá parabéns por usar o cabelo enrolado e não usar a chapinha. É um feito pra humanidade da minha parte, mesmo.
Ou o pior de tudo é quando ela diz "ai, que lindo, que bom que agora tá na moda usar o cabelo assim, né?".
Aí ela me irrita.
Primeiro, porque eu uso este cabelo assim desde os anos 80, e agora as pessoas atribuem o meu cabelo ao estilo, força e coragem da Taís Araújo naquela novela lá. Segundo, porque quando ela diz "que bom que agora tá na moda", não sei, mas me dá a sensação de que eu tenho que ficar grata que meu cabelo deixou de ser bizarrice, para se transformar no gosto popular. Eu que aproveite enquanto dura essa moda.
Outra coisa é que teve aquela moda do baby-liss e todo mundo que tinha cabelo escorrido fez cachinhos. Todo mundo pode fazer cachinhos, é bonitinho, mesmo que seu cabelo seja liso-lambido. Ai, que fofa, ela fez cachinhos. Devia usar mais assim...
No entanto, mais ou menos uma vez por ano me bate uma frescura de fazer escova no cabelo, e é só uma vez por ano porque eu não tenho saco para passar por aquilo mais do que isso. É uma questão de mudar o visual, me ver de outro jeito.
Beleza, vou lá, gasto uma grana (haja cabelo), gasto horas do meu dia sentada numa cadeira, terminou, ficou bonita, vou pra casa. SEMPRE, invariavelmente, a reação das pessoas que encontro é:
1) INDIGNADINHA: "Poxa, o que você fez no cabelo? Ah, ficou bonito, diferente, mas se eu fosse você não faria mais isso!"
O que eu fiz no cabelo? Não sei, acordei e ele já estava assim. Mas se ela fosse eu, não faria mais isso. Isso, considerando que eu devesse prestar atenção em seus conselhos. Pra essa tenho uma resposta default na minha mente: "perguntei?"
2) INDIGNADONA: "Uééé, o que aconteceu com seu cabelo?? Ah, gosto mais quando você assume seus cachos!"
Como assim o que aconteceu com meu cabelo? foi atropelado por um rolo compressor, retardada!
A parte de "assumir os cachos" é a melhor. Eu passo 364 dias no ano com eles em sua forma natural, um dia que decido mudar um pouquinho, parece que estou me escondendo, deixando de assumir quem eu sou. Sai do armário, assume seus cachos! assume, sua descendente de escravos! assume isso!
3) RESIGNADA: Nossa, cadê seu cabelo enrolado? Ficou bonito assim. Por que você não faz uma progressiva?? Minha prima tem o cabelo assim, igual ao seu, e ela fez progressiva e ficou lisinho!
Não, capeta, não quero fazer progressiva. Não quero saber da sua prima que fez progressiva. Não quero ter cabelo liso. Se eu quisesse ter cabelo liso, eu teria o cabelo... liso. Eu não sou tão alienada, sei que existe tecnologia para isso. Agradeço à ciência, mas não, obrigada.
Fazer uma escova, para uma pessoa de cabelo duro, é como assumir um compromisso com a vida.
Aí vem sempre a argumentação: "Mas se você fizer a progressiva, quando lavar volta os cachos, só que mais soltos". EU NÃO QUERO SOLTAR MEUS CACHOS, POSSO? Meus cachos, como eu, são descendentes de escravos e não têm nada que ficar mais soltos.
Estas pessoas devem ter convênio com salões de cabeleireiros que fazem progressiva e dão comissões aos seus representantes. Eu tenho que ser inflexível, porque se eu ceder por um segundo, tenho a sensação de que vai acontecer como naqueles programas em que brota a produção do nada no meio da rua colocando cadeiras, cortinas, lavatórios e criando um salão ao vivo, pronto pra me alisar.
Gente, eu não quero ser lisa.
Eu só quero, em nome de meus antepassados, ter a opção de fazer algo diferente quando me der na telha.
Quando uma pessoa de cabelo liso decide enrolar, todo mundo acha fofo. Quando eu decido alisar, me sinto até um pouco criminosa. Parece que estou ferindo minha árvore genealógica e andando na contramão da história, desrespeitando todos aqueles que morreram lutando para que afro-descendentes pudessem usar seus cabelos naturais e soltos por aí. Desculpa, antepassados. Foi mal.
Enfim, voltando ao caso "fui mulherzinha", domingo eu tinha um lugar para ir. Acordei às 8hs da manhã, corri para o banheiro para checar minha escova. Depois daquele sofrimento todo, ela devia estar intacta, mas não estava. Tive que arrumar a juba denovo, trabalhando-a na chapinha.
Acabou este processo, fui tomar banho (sim, fiz o inverso). Coloquei seis toquinhas daquelas lá e tomei o banho mais de gato do mundo. Saí, fui me maquiar. Escolher a roupa. E a outra, porque minhas roupas não combinavam com aquele cabelo liso, foi difícil chegar a um consenso. Terminei, ufa, vou tomar café e sair, finalmente.
Aí sentei na mesa tranquilamente e chequei o relógio. Eram ONZE HORAS! Eu passei três horas me arrumando, tem noção?
Isso, desculpem, não é vida.
A pessoa perde anos de sua vida assim, momentos que poderia estar aproveitando dormindo, correndo no parque, fazendo amigos, comendo um cupcake, sendo feliz... Ela passou arrumando o cabelo.
Eu prefiro, sinceramente, aqueles dias que eu acordo, coloco a primeira roupa, saio com o cabelo molhado mesmo e vou. Pois que, sinceramente, é muito mais minha cara invistir mais tempo da minha vida vivendo, do que me preparando para viver.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
boa filha à casa torna
Daí que eu parei de escrever, mas não parei de ler, e entre outros achados, ando morrendo de amores por um blog específico que as vezes é meu amiguinho imaginário, o Ricota não Derrete. Esta minha volta é resultado destas leiturinhas diárias viciantes, que me lembraram do quanto é gostoso ter um canto com cara de seu para falar um pouco (ou muito) sobre qualquer coisa. Eu preciso mudar essa casinha bagunçada e cheia de teias pra ter minha cara (que mudou bastante), porque blog bonitão é assim: mesmo simples, tem correspondência visual com o dono. Lórrico que o Ricota, como vários outros, é coisa de profissa e eu vou mexendo aqui aos pouquinhos, como toda faxina deve ser, mudando as gavetas de lugar e arrumando o dezaine de acordo com minha enorme limitação tecnológica.
Espero que dê tudo certo e que eu consiga seguir compartilhando as colheradas que eu dou na vida. :)
Espero que dê tudo certo e que eu consiga seguir compartilhando as colheradas que eu dou na vida. :)
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